domingo, setembro 17, 2006

Ano 2003: DO DOURO INTERNACIONAL PRONOSSOVALE IN BIKE

Este ano, 2003, foram 7 os bikers, Luís Saraiva (Slhick), Janinha, Paulo Magalhães, Rui Mendes, Jojo , Vitinho e o Zi, que navegaram, com o apoio logístico do Paulo Tristão e do Zé Pedro, de Barca de Alva a Mira de Aire.

Dia 0: 16 de Agosto de 2003 - Viagem “embalada” para Barca de Alva

A carrinha deste ano só tinha 3 lugares pelo que só serviu para transportar a logística, composta pelo Paulinho e o Zé Pedro, as bikes e o material individual de apoio. Os 7 bikers foram de “embalados” de autocarro até Vila Nova de Foz Côa durante cerca de cinco horas de sofrimento, pois o autocarro tinha os amortecedores de tal maneira moles que mais parecia uma viagem de navio em dia de ondulação. Chegados ao destino percorremos 40 Km de bike até Barca de Alva numa paisagem lindíssima, acompanhando o rio Douro, junto à linha de comboio abandonada (que pena não estar transitável em todo o percurso) e quando deixou de ser possível, por belíssimos caminhos, a meio e no topo das vinhateiras encostas durienses. No fim da etapa, uma descida alucinante de 3 Km conduziu-nos ao local onde passámos a primeira noite, Barca de Alva.
Dia 1-17 de Agosto de 2003 - Rompe pernas até Trancoso

Depois do prólogo do dia anterior, iniciámos verdadeiramente a nossa aventura, afinámos as bikes, seleccionámos as cartas topográficas e começámos a pedalar encosta a cima, fazendo jus ao velho ditado, quem muito desce muito tem que subir. Trepámos até à Quinta da Boavista, onde nos despedimos do Douro e até ao almoço em Vilar de Amargo, viajámos pelo planalto Beirão num sobe e desce constante sempre com a Serra da Marofa a observar-nos.
A segunda parte da etapa começou negra, fomos por alcatrão até Algodres onde voltámos à terra e entrámos por uma imensa zona ardida que só largámos quando transpusemos o rio Côa através da ponte da União e escalámos até Cidadelhe ( 2Km com 10 a 15% de inclinação). Recuperado o fôlego nesta simpática aldeia, seguimos até Juízo, Ervedosa e Cótimos onde decidimos, devido ao adiantar da hora fazer os restantes 12 Km de ligação até Trancoso por alcatrão numa estrada secundária pouco percorrida.
Fomos muito bem recebidos na terra de Bandarra, onde estavam a decorrer a festas de Verão da vila, tomámos banho no pavilhão municipal, jantámos gratuitamente na Escola Profissional de Trancoso e dormimos nas instalações da Associação Recreativa. Obrigado Trancoso.
Dia 2-18 de Agosto de 2003 - Serra de Estrela no horizonte

A saída de Trancoso foi impecável, logo que deixámos a zona edificada (junto à capela de Santa Eufémia) entrámos num caminho misto de terra e calçada romana que nos conduziu a um imenso prado dourado até atingirmos o topo do vale da Ribeira de Seixas, perto de Fiães, o qual nos brindou com uma descida (com piso em bom estado) alucinante de cerca de 8 Km passando pelos recônditos lugares de Barrocal e Cardal até Forno Telheiro. Daí até Vila Boa do Mondego fomos calmamente junto á linha férrea por um caminho praticamente plano à procura do almoço.
Depois de repostas as energias, deixámos Vila Boa do Mondego e subimos levemente até Carrapichana por uma auto-estrada de terra batida, cuja única dificuldade era o calor que se fazia sentir, cerca de 42 graus. Chegados a esta aldeia dirigimo-nos para Figueiró da Serra fazendo 3 Km de alcatrão, repusemos líquidos e iniciámos a subida (normalmente o acesso a Folgosinho faz-se por alcatrão onde se percorrem apenas cerca de 7 Km) por terra batida. Vencemos um desnível de cerca de 600 metros, pedalando durante 10 km (média de 6% de inclinação) percorrendo uma trilho magnífico, donde vislumbrámos grande parte do percurso por nós feito até então. Já nos 1200 metros de altitude, aproveitámos para nos refrescarmos na Fonte da Arca, com uma água saborosamente fresca. O moral das tropas estava em cima, vencida a subida, saciada a sede, restava agora descer alguns quilómetros até à cota 900. Foi num ápice que atingimos, risonhos, o nosso objectivo, Folgosinho onde pernoitámos nas instalações da Associação Recreativa local.
Dia 3-19 de Agosto de 2003 - A duplicidade da Serra (Rainha) da Estrela

Estando nas faldas das Serra de Estrela é claro que o dia começou a subir, saímos da cota 900, apanhámos um caminho florestal e paulatinamente fomos ascendendo até aos 1300 metros, nos primeiros quilómetros protegidos pelo que resta da floresta do Parque Natural da Serra de Estrela e depois numa paisagem verdejante, com uma vista fabulosa sobre o vale do Mondego, mas sem uma única árvore para nos proteger do intenso calor irradiado pelo astro Rei. Chegados a esta cota, saímos do caminho florestal e percorremos um singletrack levemente descendente que nos levou aos 1000 metros e depois com uma forte inclinação que nos transportou, aos 1400 metros, até ao alcatrão da estrada que liga Gouveia a Manteigas. Daí descemos 4 km de um serpenteante alcatrão, a uma velocidade vertiginosa (o ciclocomputador marcou 72 Km\h) até à aldeia mais alta de Portugal, Sabugueiro. Foi nesta aldeia que reabastecemos, para de seguida ir escalar 10 quilómetros “asfálticos” até à Lagoa Comprida, cujo percurso foi vencido em cerca de uma hora de esforço constante. Depois de uma breve pausa, subimos até ao marco quilométrico dos 20 Km onde atingimos a cota máxima do passeio, 1700 metros e virámos à direita para tomar contacto com a outra face da Serra da Estrela, uma descida imperial, isto é, longa quanto baste, cerca de 17 Km, tecnicamente exigente, calhaus rolados soltos, areia granítica a pedir uns pneus 2.3 (que obviamente ninguém tinha montado), regos onde cabia a bike e o biker, inclinações de 35 % , tudo isto numa envolvente paisagística grandiosa onde a visão das aldeias encaixadas no fundos dos vales, contrastava com um horizonte imenso, onde o Sol, timidamente, já se despedia. Terminámos a descida na bonita aldeia de Cabeça (de fazer inveja ao Piodão) à cota 500 e daí pedalámos, os restantes 5 quilómetros, até Vide por uma estrada cujo o alcatrão ainda cheirava a novo (na carta ainda estava simbolizado como terra batida).
Dia 4-20 de Agosto de 2003 - Serra do Açor e a rota dos vértices geodésicos

Acordámos com o som da água represada da Ribeira do Piodão, pois dormimos nas instalações da Junta de Freguesia de Vide que fica localizada mesmo a sua beira. Tomámos o pequeno almoço e lá partimos para mais um dia que, após leitura das cartas topográficas, se adivinhava bastante duro.
Logo no início da subida que teríamos que efectuar para sair de Vide, a corrente de uma das bikes não aguentou o esforço e partiu duas vezes seguidas. Depois alguma habilidade mecânica lá se consegui resolver o problema e continuámos a caminhada.
Entretanto chegou ao pé de nós, um praticante de BTT de Vide, o Paulo Matias, que apesar de ter chegado de Lisboa, mesmo cansado, não cedeu à tentação e nos acompanhou durante os primeiros dois quilómetros, que foram simplesmente os mais duros da nossa aventura, com uma inclinação média de 15 % e um solo xistoso muito solto a dificultar a progressão, por vezes feita à mão. Passada esta dificuldade, percorremos um caminho que acompanhava a linha de cota quase no topo da montanha (Colcorinho) e que nos levou até à estrada alcatroada de acesso a aldeia de Piodão, local onde fizemos uma breve pausa para observar toda a sua beleza. Por estarmos um pouco atrasados, devido à avaria registada, decidimos fazer 8 km de alcatrão até à aldeia de Relva Velha, onde retomámos a terra batida descendente que nos conduziu à frondosa Mata da Margaraça e de seguida ao local escolhido para o reabastecimento, a Fraga da Pena com as suas cascatas de água cristalina a convidarem para um mergulho.
Com as energias renovadas, já sabendo o que nos esperava, começámos então a subir em direcção à aldeia de Sardal, por um trilho de tal maneira agradável, com a floresta a proteger-nos dos raios solares, que rapidamente vencemos um desnível de 600 metros até ao Cabeço do Monte Redondo.
A partir deste local e até final da jornada, foram 25 duros quilómetros, por caminhos que alternavam grandes subidas com descidas frenéticas acompanhando a linha de cumeeira da serra, passando pelos diversos vértices geodésicos da zona, Reguengo (968m), Catraia (870m), Gatucha (983m) e finalmente Vieiro (859m) a partir do qual fomos recompensados com uma descida estonteante e íngreme, primeiro em terra finalizando em asfalto que nos levou até ao parque de campismo municipal da vila que nos acolheu nessa noite, Góis (210m).
Dia 5-21 de Agosto de 2003 - Atravessar a Serra da Lousã e acabar com uma nocturna

O dia nasceu fresco e cristalino, talvez devido à influência do rio Ceira que atravessa Góis. Aproveitando esta rara benesse, alimentámo-nos, preparámos as bikes e toca a pedalar que os trilhos esperam por nós.
Começámos, como já vinha sendo hábito, a subir, primeiro por um estradão de terra batida que desembocou numa aldeia com um nome sugestivo, Ladeiras, depois 3 km “asfalticos” até à aldeia de Pena onde pudemos observar o imponente Penedo de Góis, local de eleição para escalada em rocha, para finalmente atacar a grande subida do dia, até às imediações do Castelo de Trevim onde parámos um pouco para observar a paisagem e dar descanso às pernas, pois olhando para a carta e fazendo as contas tínhamos vencido o maior desnível do passeio, 1000 metros, em cerca de 15 km (6.5% de inclinação média).
Absorvida a paisagem, passeámo-nos por um trilho rolante magnífico seguindo a linha de cota dos 900 metros, com vista aberta sobre Coentral e Castanheira de Pêra, que nos conduziu à casa florestal situada na estrada nacional 236, mesmo no limite do distrito de Coimbra (de que nos despedíamos) com o de Leiria (onde terminaria a nossa aventura). Atravessámos a estrada nacional, seguimos por um estradão que se desenvolve pela linha de cumeeira até a uma zona onde virámos à esquerda descendo por um corta-fogo recém aberto, com um piso muito técnico composto por calhaus angulosos de xisto misturados com uns traiçoeiros troncos de eucalipto proporcionando uma condução veloz e divertida até ao local combinado para o almoço.
Como o calor estava muito forte e o repasto foi farto decidimos descansar um pouco e atrasar a saída para a etapa da tarde. Saímos de Castanheira de Pêra por volta das 16h30m e retomámos o caminho que tínhamos deixando umas horas antes, um pouco mais à frente e lá continuámos a fazer quilómetros num sobe e desce suave até à aldeia de Cabeças onde chegámos já com o sol muito baixo. Este facto, aliado às dificuldades de navegação que ser adivinhavam depois de uma leitura atenta das cartas, fez com que decidisse-mos terminar o dia por alcatrão. Pedalámos então, 10 quilómetros nocturnos por uma estrada secundária com circulação reduzida, que nos levou a Alvaiázere onde dormimos a última noite desta travessia, no pavilhão gimnodesportivo gentilmente cedido pela edilidade local.
Dia 6-22 de Agosto de 2003 - Asfáltica nostálgica

Durante o jantar do dia anterior ficou decidido por maioria absoluta que a última etapa desta aventura seria feita por asfalto, por motivos de ordem pessoal de cada um dos participantes era importante chegar cedo ao destino final.
Fizemos então a ligação de Alvaiázere a Mira de Aire por estradas alcatroadas secundárias de bom piso e pouco movimento com passagem pelo castelo de Ourém, subida que comparada com as feitas no passado ainda recente, se revelou uma brincadeira de crianças.
Ao chegar a Mira de Aire sentimos saudades do futuro: para o ano lá estaremos, a trilhar os caminhos de Portugal.